Análise: BNA mantém taxa básica de juro em 19,5% e ajusta política de liquidez

O Banco Nacional de Angola (BNA) decidiu manter a taxa básica de juro em 19,5% e reduzir a taxa de absorção de liquidez para 17,5%. Esta análise explora as implicações dessas decisões para a economia angolana e levanta questões críticas sobre o seu impacto real.


Na 122.ª Reunião Ordinária do Comité de Política Monetária, realizada em Ondjiva, o Banco Nacional de Angola (BNA) optou por manter a taxa básica de juro em 19,5%. Além disso, reduziu a taxa de juro da Facilidade Permanente de Absorção de Liquidez para 17,5%, uma diminuição de um ponto percentual relativamente à taxa anterior de 18,5%.

A manutenção da taxa básica de juro indica a intenção do BNA de continuar a combater a inflação, que, embora tenha mostrado sinais de desaceleração, permanece elevada. Em Fevereiro, a taxa de inflação mensal desacelerou para 1,59%, comparada aos 1,67% observados em Janeiro. A inflação homóloga também manteve uma trajectória descendente pelo sétimo mês consecutivo, situando-se em 25,26% em Fevereiro, face aos 26,48% do mês anterior.

A redução da taxa de absorção de liquidez para 17,5% visa estimular uma maior dinâmica no mercado monetário interbancário. Ao diminuir a remuneração que os bancos recebem ao depositar fundos no banco central, o BNA incentiva as instituições financeiras a buscarem alternativas no mercado interbancário para gerir a sua liquidez, promovendo assim uma maior circulação de recursos na economia.

Mas a economia real sentirá algum impacto?

Estas decisões reflectem uma estratégia monetária que tenta equilibrar o controlo da inflação com a dinamização do sector financeiro. Mas será que esta política terá efeitos concretos na economia real? O mercado interbancário está suficientemente desenvolvido para absorver essa liquidez e transformá-la em crédito acessível para empresas e consumidores? Reduzir a taxa de absorção de liquidez pode, sim, forçar os bancos a procurarem alternativas, mas, na prática, será que esses recursos chegarão às pequenas e médias empresas ou continuarão concentrados nos mesmos grandes ‘players’?

Se o objectivo do BNA é tornar o mercado financeiro mais dinâmico, talvez seja hora de questionar também as barreiras estruturais que dificultam o acesso ao crédito e ao financiamento. A inflação está a baixar, mas a economia angolana ainda enfrenta desafios como baixo poder de compra, dificuldades no acesso a financiamento e um sector produtivo fragilizado. Reduzir a taxa de absorção de liquidez sem garantir que o crédito chegue aos agentes produtivos pode ser um tiro no escuro. Será que a política monetária, por si só, é suficiente para impulsionar o crescimento económico? Ou será que ainda falta um alinhamento mais estratégico entre políticas fiscal, cambial e industrial para garantir um impacto real na vida dos angolanos?

Fonte: Comité de Política Monetária do BNA | Expansão | Jornal de Angola

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