Análise do Relatório de Execução Orçamental – 1.º Trimestre de 2025
O primeiro relatório de execução do OGE 2025 demonstra um esforço técnico notável na arrecadação de receitas e na disciplina da despesa.
No entanto, um olhar atento revela a persistência de fragilidades estruturais e contradições silenciosas no planeamento orçamental angolano.
Receita e despesa: disciplina com défice
Apesar da arrecadação de 6,12 biliões Kz (18% da previsão anual), o total da despesa atingiu 6,61 biliões Kz, culminando num défice orçamental de 489,36 mil milhões Kz. O saldo corrente é positivo, o que significa que as despesas correntes foram sustentadas pelas receitas do período. Mas a fotografia global ainda reflecte um desequilíbrio entre a ambição fiscal e a capacidade de execução.
A velha dependência do petróleo
O sector petrolífero continua a ancorar a receita nacional: 33% da arrecadação veio desse recurso. E mesmo com o preço do Brent acima do previsto, a produção ficou aquém da meta. A resiliência fiscal continua vulnerável aos humores do mercado internacional — uma realidade que o discurso da diversificação económica ainda não conseguiu contrariar.
Despesas sociais: avanços tímidos, prioridades discutíveis
O sector social absorveu 22% da despesa, com aumento de 45% face ao 1.º trimestre de 2024. Mas curiosamente, Habitação e Serviços Comunitários receberam mais que Educação e Saúde combinadas. Uma aparente inversão de prioridades que merece ser debatida: nós investimos no essencial ou somente a construir estruturas visíveis?
Investimento público: energia, água e intenções
O PIP (Programa de Investimento Público) teve execução de 1,3 biliões Kz. Há destaques positivos como os projectos de electrificação rural e abastecimento de água em Luanda. Contudo, a execução física de várias iniciativas é ainda modesta — e com isso, também o impacto imediato na vida das comunidades, já que ainda vemos presente o enfoque da execução por local somente na capital.
Endividamento: um peso que cresce
O relatório da execução orçamental deste 1º trimestre de 2025 é técnico, extenso e meticuloso. Mas, ao mesmo tempo, silencia elementos cruciais: que impacto social tiveram essas despesas? Que retorno trouxeram os investimentos? Sem essas respostas, continuamos a gerir números — não necessariamente a transformar realidades.
A execução orçamental, afinal, não é apenas uma prática contável — é uma declaração política.
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